Robert Prevost, 69, é o novo papa Leão 14, primeiro americano da história

Vaticano

Em uma decisão histórica e surpreendente, o Vaticano elegeu o cardeal americano Robert Francis Prevost como novo papa, adotando o nome Leão 14. Aos 69 anos, o religioso assume como o 267º pontífice da Igreja Católica, tornando-se o primeiro papa oriundo dos Estados Unidos. A escolha rompe com a expectativa de que o cargo voltasse a ser ocupado por um europeu, mais especificamente um italiano, após o papado do argentino Francisco.

A tradicional fumaça branca anunciou a decisão do conclave, e a multidão reunida na Praça São Pedro ouviu o “Habemus Papam” seguido do nome do novo líder espiritual de 1,4 bilhão de católicos ao redor do mundo. Com o lema “In Illo uno unum” (“No único Cristo, somos um”), Leão 14 sinalizou desde o início seu compromisso com a unidade da Igreja e reforçou, em seu discurso inaugural, a necessidade de uma Igreja sinodal. “Vamos em frente, somos discípulos de Cristo. O mundo precisa de sua luz”, declarou da sacada da Basílica de São Pedro.

Ex-prior da Ordem de Santo Agostinho e considerado progressista, Prevost tem laços estreitos com a América Latina — viveu duas décadas no Peru como missionário e comandou o Dicastério para os Bispos e a Comissão Pontifícia para a América Latina durante o pontificado de Francisco. Parte de seu discurso foi proferida em espanhol, refletindo sua fluência adquirida nos anos de atuação no país andino.

A eleição de Leão 14 reconfigura o peso geopolítico da Igreja. Apesar dos EUA contarem com a quarta maior população católica do mundo — cerca de 85 milhões de fiéis — e serem a segunda nação mais representada no Colégio Cardinalício, até agora nenhum cardeal americano havia liderado uma candidatura considerada viável ao papado.

A escolha acontece em meio a um cenário de relações tensas entre o Vaticano e os EUA, intensificadas durante o governo de Donald Trump. O ex-presidente comemorou a eleição nas redes sociais, chamando-a de “grande honra para o país”, apesar dos diversos atritos que teve com Francisco, incluindo críticas às políticas de imigração americanas e a proposta de construção de um muro na fronteira com o México. Em 2016, o então papa chegou a afirmar que “quem constrói muros não é cristão”.

Leão 14, no entanto, carrega também episódios controversos em sua trajetória. Quando era bispo em Chiclayo, no Peru, teria arquivado denúncias de abuso sexual contra dois padres. Em outro caso, já nos EUA, permitiu que um religioso acusado de abuso morasse próximo a uma escola sem informar as autoridades locais.

Com formação acadêmica robusta — doutor em Direito Canônico pelo Colégio Pontifício de Santo Tomás de Aquino — e experiência internacional, o novo papa assume em um momento de expectativas sobre o rumo da Igreja Católica no século 21. Sua eleição pode sinalizar uma continuidade das reformas propostas por Francisco, com ênfase na escuta, inclusão e descentralização do poder eclesiástico.

A movimentação também reacende a atenção sobre o papel dos EUA no cenário católico global, especialmente diante de uma possível reaproximação entre Washington e o Vaticano, agora sob a liderança de um pontífice americano.